Amigos, amigos, negócios à parte: o desafio da desvalorização profissional

Até onde vai uma amizade e quando ela deve ser separada do trabalho? Quem nunca recebeu um pedido de um amigo ou até mesmo de familiares para fazer um trabalho de graça ou com um bom desconto? Atualmente, as redes sociais estão cheias desses tipos de relatos, que podem aparecer em diversas situações e com experiências semelhantes.

A desvalorização das profissões por parte de terceiros que confundem amizade com favores é um tema bastante discutido. Mas como explicar que esses favores precisam ser cobrados sem prejudicar a amizade?

O ditado popular, frequentemente usado como clichê, “amigos, amigos, negócios à parte”, é uma frase rica em sabedoria. Mas o que ela realmente quer dizer? O significado diz respeito ao risco de se perder uma amizade ao fazer negócios com um amigo. Independentemente da relação, a amizade e os negócios têm regras próprias e não devem se misturar, evitando assim conflitos que podem surgir dessa combinação.

Pablo Araújo, fotógrafo há quase 20 anos – Foto: Cedida

O fotógrafo Pablo Araújo, de 35 anos, pegou em uma câmara fotográfica pela primeira vez em 2007, quando fez uma foto 3×4. Ele mergulhou de cabeça no mundo da fotografia após seu cunhado colocá-lo em contato com profissionais da área, desenvolvendo assim suas habilidades e construindo uma carreira sólida com quase 20 anos de experiência.

Com a ajuda de seu mentor Rafael Bonamim, Pablo começou a assumir responsabilidades maiores e a fotografar eventos importantes. “Rafael realmente me alavancou nessa carreira. Ele me cedeu equipamentos e acreditou em mim, o que foi essencial para eu me tornar o fotógrafo que sou hoje”, relatou Pablo.

Ensaio fotográfico de estúdio – Foto: Cedida

Apesar dos muitos desafios, incluindo o roubo de seus equipamentos em setembro de 2023 e a necessidade de vender sua moto para recomprá-los, Pablo nunca desistiu. “Foi um desafio muito difícil, mas eu me reestruturei, sacrificando e abrindo mão de coisas que já tinha conquistado para tentar conseguir meu equipamento de novo”, desabafou ele. Agora, de volta à batalha, Pablo enfrenta outro obstáculo comum: a desvalorização de sua profissão por parte de pessoas que pedem “favores” de graça.

Recentemente, Pablo Araújo publicou em suas redes sociais, um desabafo com que vem se deparando frequentemente: amigos que confundem amizade com trabalho. “As pessoas me convidam para eventos não pela minha presença, mas pelo interesse nas minhas fotos. Elas não entendem que isso é o meu trabalho”, lamentou.

Pablo trabalha com fotos de posicionamento profissional, eventos, formaturas, fotos externas e books – Foto: Cedida

Sanayra Mesquita, estrategista de marketing, compartilha uma visão semelhante. Formada em administração, Sanayra entrou no mundo do marketing durante a pandemia e enfrentou as mesmas dificuldades com amigos e clientes que não valorizavam seu trabalho adequadamente. “É muito complicado quando amigos começam a pedir aquilo que você utiliza como seu meio de sobrevivência”, afirmou.

Sanayra admite que, no início da carreira, chegou a dar descontos para não perder clientes ou amizades, mas logo percebeu que isso não era sustentável. “Um boleto não é um favor, e você não consegue pagar a conta de luz com amizade. O tempo é dinheiro, especialmente para quem trabalha com arte e marketing”, ressaltou.

Ela ainda aponta uma dura realidade: quando as pessoas têm dinheiro, elas procuram outros profissionais, não aqueles que as ajudaram quando estavam em dificuldades. Esse comportamento revela uma desvalorização enraizada que afeta diversas profissões, não apenas a fotografia e o marketing.

A valorização profissional é essencial para o crescimento – Foto: Cedida

Pablo Araújo, destaca a importância de valorizar o trabalho dos amigos e colegas, insistindo que o profissionalismo e a cobrança de um valor justo são essenciais para o crescimento da profissão. “Acredito que se cada um pensar da mesma forma que eu penso, todos vamos crescer. Tem espaço para todo mundo”, concluiu