Plantação da cadeia produtiva do cacau é discutida em evento no Acre

Como parte da iniciativa para discutir estratégias de fortalecimento das cadeias produtivas no estado, a Secretaria de Estado da Agricultura do Acre (Seagri), em parceria com o Sebrae, realizou na manhã desta quarta-feira, 17, o evento “Porque plantar cacau?”, com objetivo de debater sobre a cadeia de valor do cacau e os investimentos necessários para consolidar sua produção no Acre.

Fortalecimento das cadeias produtivas no estado é discutido em evento – Foto: Mirlany Silva/Diário Expresso

O secretário de Agricultura, José Luís Tchê, destacou a importância do evento como um ponto de partida para ouvir especialistas de outros estados com experiência na produção de cacau, como Bahia e Pará.

“Esse primeiro encontro vai nos dar um norte para ouvir os especialistas e construir juntos. Hoje, trouxemos produtoras e produtores rurais porque o Acre tem um cacau diferenciado, nativo, que pode conquistar um mercado especial enquanto preserva nossas florestas”, afirmou Tchê.

Para ele, o evento também é de extrema importância para os produtores do estado. “A agricultura só avança se ouvirmos os produtores rurais, que sabem o que está acontecendo no campo. Com a tecnologia e as informações que eles nos fornecem, podemos superar desafios climáticos e outros obstáculos. Com certeza, o Acre tem potencial para se tornar um celeiro do Brasil na produção de cacau”, disse o secretário.

Segundo ele, o Acre tem potencial para se tornar uma referência mundial em cacau de alta qualidade, especialmente com a recente alta nos preços do produto, que subiram de R$ 17 para R$ 62 por quilo.

“A agricultura só avança se ouvirmos os produtores rurais” – Foto: Mirlany Silva/Diário Expresso

Para Assuero Veronez, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Acre (FAEAC), os agricultores do estado enfrentam uma série de dificuldades, muitas delas decorrentes da falta de incentivos e alternativas produtivas ao longo dos anos.

“Por muitos anos, estivemos quase exclusivamente concentrados na pecuária de grande porte, que é muito produtiva e importante para o estado. No entanto, é essencial diversificar, especialmente para os pequenos produtores”, explicou. Ele destacou que culturas perenes, como café e cacau, são cruciais para viabilizar pequenas propriedades, já que “o mundo todo consome café e chocolate”.

Além do café e do cacau, Veronez apontou o açaí como uma terceira atividade de grande potencial. “O açaí está ganhando o mercado mundial, mas ainda estamos quase no extrativismo, e o mercado é muito maior do que isso. Precisamos desenvolver a tecnologia de produção e variedades adequadas para sustentar esse mercado”.

José Luís Tchê, também mencionou programas específicos para apoiar os pequenos agricultores, incluindo a produção e doação de mudas, acompanhamento técnico e a compra de equipamentos para análise do solo em tempo real. Além disso, ele destacou a possibilidade de oferecer incentivos fiscais aos produtores, ressaltando a aposta no cacau nativo como um diferencial do estado. 

“O governo está investindo muito no cacau nativo, que agrega valor ao produto por seu sabor único e pela preservação da floresta. Estamos incentivando ribeirinhos e indígenas a colher as melhores sementes e a capacitar-se”, disse.

Assuero Veronez acredita que, com políticas públicas eficazes e investimentos em tecnologia e diversificação, o Acre pode superar os desafios atuais e transformar a agricultura local, beneficiando especialmente os pequenos produtores. “Temos boas possibilidades, e é fundamental aproveitá-las para mudar o panorama da produção agrícola no estado”, concluiu.

Ligeirinho Agroindústria

Ligeirinho Agroindústria é uma empresa que se destaca pela produção diversificada – Foto: João Paullo Castro/Diário Expresso

Localizada a 14 km do centro da cidade de Acrelândia, interior do Acre, a Ligeirinho Agroindústria é uma empresa que se destaca pela produção diversificada, possuindo atualmente cinco produtos principais, como milho verde, caldo de cana, cachaças artesanais, chocolates e licores. A empresa conta com três estruturas fabris dedicadas a esses produtos, desde a produção agrícola até o beneficiamento e embalagem para distribuição e venda.

O CEO da empresa, Aluísio David, explicou que a diversificação é uma das principais estratégias da empresa. “Produzimos nosso próprio milho verde e caldo de cana, com uma vida útil de 60 dias. Nossa cachaçaria artesanal também é uma marca forte, assim como os licores e chocolates que estamos lançando este mês”, afirmou.

Um dos destaques recentes é a produção de chocolate, iniciada com cacau que viria do estado de Rondônia, mas em parceria com a Seagri do Acre, a empresa irá produzir chocolates 100% acreano.

“Estamos avançados na triagem dos produtores de cacau do Acre. Nosso objetivo é produzir chocolate 100% acreano, catalogando cada produtor para garantir a qualidade e autenticidade do produto”, explica David. 

De acordo com ele, a Ligeirinho Agroindústria também se preocupa com a sustentabilidade, fazendo uso de áreas antigas de pastagem para o cultivo, sem a necessidade de abertura de novas áreas. “Utilizamos o bagaço da cana e outros resíduos como adubo orgânico e nutrição animal, reduzindo a necessidade de químicos e promovendo a economia circular”, destaca o CEO.

Para competir com grandes produtores de cacau de estados como Rondônia, Espírito Santo e Bahia, a Ligeirinho está investindo na capacitação dos produtores locais, além de produzir produtos de alta qualidade. “Vamos treinar os produtores desde o plantio até a fermentação, secagem, embalagem e transporte do cacau. Queremos garantir que o cacau do Acre seja de alta qualidade e competitivo no mercado nacional e internacional. Estamos surpresos com o potencial do Acre em fornecer um bom cacau e queremos aproveitar isso ao máximo “, concluiu David.