“A arte é para todos”: nova lei reconhece charge, caricatura, cartum e grafite como patrimônio cultural brasileiro

A arte pode ser expressa de diversas formas, e agora algumas delas têm um reconhecimento oficial no Brasil. Com a sanção de uma nova lei pelo presidente Lula, a charge, a caricatura, o cartum e o grafite passam a ser reconhecidos como manifestações culturais do país. Essas expressões, que capturam com humor e crítica aspectos profundos da sociedade, ganham visibilidade, reforçando seu papel essencial na construção cultural do país.

Para o caricaturista Daniel Cabral, a nova legislação é importante, mas ele reforça a necessidade de uma valorização mais ampla da arte no país.

“É importante que a arte seja presente no consciente da massa, como Gilberto Gil dizia: é o feijão com arroz da cultura. No Brasil, as pessoas precisam que algo seja chancelado para ganhar importância, mas o ideal é que a arte seja vista como essencial”, afirmou Cabral.

Para Daniel, a ‘arte é para todos’ – Foto: Diário Expresso

Cabral acredita que a caricatura e a charge precisam equilibrar crítica e valorização, destacando características de figuras públicas sem exageros depreciativos, mas de uma forma que, segundo ele, valoriza até os defeitos.

“Infelizmente, muitos brasileiros estão afastados dela por uma construção cultural que a coloca como algo inacessível. Mas a arte é, e sempre deveria ser, para todos”, ressaltou Daniel.

O chargista Enilson Amorim também celebrou a sanção da lei, que considera uma vitória para os profissionais de arte gráfica.

Charge feita em homenagem ao fotógrafo Marcus Vicentti – Foto: Cedida

Segundo ele, “essa lei veio para valorizar os profissionais que trabalham nesse segmento. Durante a ditadura militar, por exemplo, chargistas como Ziraldo, Henfil e Millôr Fernandes enfrentaram censura e repressão. Essa lei é um primeiro passo importante para a valorização”.

Amorim enfatizou a necessidade de crítica nas charges, apontando que elas precisam, além do humor, “expor a desigualdade e as mazelas causadas pela classe poderosa”. Para ele, as redes sociais hoje funcionam como uma nova plataforma de democratização, onde os chargistas podem expor problemas sociais e também combater discursos de ódio e discriminação.

“Não dá para sermos omissos com ataques a grupos étnicos. As charges são armas fundamentais para enfrentar o racismo e a intolerância”, concluiu Amorim.