A coordenadora do curso de Nutrição da Universidade Federal do Acre (Ufac), professora Danila Torres de Araújo Frade Nogueira, anunciou oficialmente nesta segunda-feira (30) que passará a exercer suas funções em regime de trabalho remoto. A decisão foi tomada como forma de autoproteção, após uma série de ameaças e situações de assédio dentro da própria instituição.
Segundo a professora, tudo começou em janeiro deste ano, quando negou o pedido de segunda chamada em uma avaliação feito por um aluno. Após o indeferimento, o estudante teria feito uma ameaça direta: “Cuidado, eu sei por onde a senhora anda”. O caso foi levado à polícia e à própria universidade, que abriu um processo administrativo. No entanto, mesmo passados dois meses, a Reitoria ainda não se pronunciou oficialmente sobre o caso, e o aluno continua frequentando normalmente o campus.
A situação se agravou. O mesmo estudante, mesmo estando suspenso preventivamente, voltou a circular pelas dependências do curso e intimidou outros membros do colegiado, além de ameaçar uma servidora técnico-administrativa, Andréa Rodrigues. Outros processos envolvendo o estudante, incluindo episódios de embriaguez, comportamento inadequado com mulheres e novas ameaças, também estão parados desde 2023 e janeiro deste ano.
No dia 18 de maio, um novo episódio de assédio ocorreu. Fora do ambiente e do horário institucional, o aluno enviou um vídeo diretamente ao telefone pessoal da professora, o que motivou a abertura de mais um processo administrativo. Nele, Danila pediu medidas urgentes: suspensão cautelar do aluno, restrição de acesso às áreas do curso e apoio jurídico junto ao Ministério Público Federal e à Polícia Federal.
A professora destaca que, até agora, a única medida efetiva foi o envio de um ofício à Polícia Federal. Diante da ausência de providências por parte da Reitoria, ela continuará em trabalho remoto até que suas solicitações sejam analisadas oficialmente.
O caso chama atenção em meio a um contexto alarmante: entre janeiro de 2018 e junho de 2025, o Acre registrou 81 feminicídios consumados e 158 tentativas, segundo dados do Ministério Público do Estado. Só neste primeiro semestre, quatro mulheres foram assassinadas, sendo dois desses crimes ocorridos na mesma semana, em junho.
A professora finaliza o comunicado afirmando que, caso a convivência com o aluno continue sem a adoção das medidas protetivas solicitadas, pedirá renúncia do cargo de coordenação, por não haver segurança mínima para continuar exercendo a função.