O que era para ser um dia comum se tornou um drama para a família do caminhoneiro Smayle Maciel de Abreu, de 39 anos. Ele está em estado gravíssimo no Pronto-Socorro de Rio Branco após ser baleado na cabeça, na tarde de terça-feira (18), na Rua Buriti, bairro Santo Inês, no Segundo Distrito.
Segundo a família, Smayle foi vítima de uma emboscada enquanto tentava recuperar uma bicicleta motorizada que havia sido anunciada para venda e levada por um adolescente durante um suposto teste.
A esposa, que preferiu não se identificar, contou que a venda do veículo nem era real. A publicação do anúncio, feita no dia 12, aconteceu no calor de uma discussão envolvendo o filho. No domingo (16), um rapaz entrou em contato oferecendo comprar a bicicleta e pagaria ainda R$ 50 extras pela entrega em um posto de gasolina próximo ao Estádio Arena da Floresta.
O casal foi ao local combinado. Enquanto ela tomava um sorvete, o jovem — aparentando cerca de 15 anos — testou o veículo, elogiou o estado da bicicleta e pediu para dar mais uma volta. Momentos depois, fugiu acelerando e desapareceu entre as ruas do entorno do estádio.
Desesperados, eles iniciaram buscas pelo bairro e informaram o caso a uma viatura da polícia encontrada no posto. Já em casa, Smayle relatou o golpe em um grupo de ciclismo, onde recebeu a primeira pista: a foto de um adolescente apontado como autor do furto e que já teria roubado outras bicicletas.
A emboscada
Na terça-feira (18), munido do suposto endereço, Smayle foi até o bairro Santo Inês por volta das 12h50. Ele permaneceu horas dentro do carro, acreditando que o adolescente poderia passar com a bicicleta. Segundo a esposa, a ideia dele era apenas chamar a polícia assim que o encontrasse — algo que já havia dito ao próprio pai em mensagens.
“Ele jamais imaginou maldade. Se visse perigo, não iria sozinho e desarmado para um lugar como aquele. Ele nem saiu de dentro do carro. A intenção dele era ligar para a polícia”, destacou.
Por volta das 16h20, um disparo foi ouvido. Moradores acionaram a polícia e o Samu. A informação preliminar à família é de que Smayle foi atingido na nuca enquanto estava dentro do veículo e, mesmo ferido, tentou dirigir para fugir.
“Eu fico indignada com o que falam por aí. Meu marido vivia na estrada, sustentava a família. Se ele fosse faccionado, você acha que estaria lá sozinho esperando o menino? Eu conheço meu marido, é muito doloroso ouvir esse tipo de coisa”, desabafou.
O tiro atravessou a cabeça e ficou alojado no rosto. Ele está em coma induzido, respirando por aparelhos, com o cérebro inchado e sem possibilidade de cirurgia pela posição do projétil.
Entre a dor, a luta e a fé
Casados há cerca de 16 anos, o casal tem filhos e ela está grávida de três meses. Smayle havia deixado Santa Catarina para voltar ao Acre e cuidar do pai doente.
Muito abalada, a esposa conta que tem recebido uma enxurrada de mensagens de apoio. “Meu celular trava de tanta mensagem. Todo mundo gosta dele. As carreteiras todas mandando força, dizendo que ele vai se recuperar.”
Mesmo com um prognóstico médico severo, ela se apega à fé enquanto espera respostas da Polícia Civil sobre o caso.
“O médico disse que é humanamente impossível ele acordar, mas para Deus nada é impossível. Peço orações. Ele tem uma família esperando por ele, e vamos cuidar dele de qualquer forma”, concluiu.
