Importância das frutas e hortaliças na promoção da saúde humana

Uma alimentação saudável é considerada adequada quando, além de sua composição nutricional, também compreende aspectos relativos à percepção dos indivíduos sobre padrões de vida e alimentação condizentes com suas expectativas. Nesse sentido, as dimensões de variedade, quantidade, qualidade e harmonia se associam aos padrões culturais, regionais, antropológicos e sociais das populações. Assim, uma alimentação saudável e adequada é aquela que incorpora todo o percurso necessário, desde a produção até o consumo do alimento, em todas as suas dimensões, principalmente culturais, e todas as possibilidades que essa produção gera em termos de desenvolvimento sustentável e segurança alimentar.

Inúmeros estudos realizados nas últimas décadas têm evidenciado o importante papel da alimentação na saúde humana, podendo causar ou prevenir diversos tipos de doenças. A população brasileira tem mudado seus hábitos alimentares, e, infelizmente, essas mudanças têm sido para pior. O consumo de doces, refrigerantes, massas, bolachas, biscoitos e ultraprocessados têm aumentado significativamente, em detrimento do consumo de cereais, principalmente os integrais, leguminosas, raízes, tubérculos, frutas e hortaliças.

É sabido que determinados comportamentos alimentares podem influenciar não apenas o estado de saúde presente, mas também determinar se mais tarde na vida o indivíduo desenvolverá algum tipo de doença, como certos tipos de câncer, doenças cardiovasculares, pressão alta e diabetes tipos I e II. Estudos indicam que o consumo insuficiente de frutas e hortaliças é um fator de risco para doenças crônicas não transmissíveis. Esses alimentos são essenciais para uma dieta saudável, pois são fontes de minerais, vitaminas, fibras dietéticas e outros nutrientes com propriedades funcionais de grande benefício fisiológico. As frutas e hortaliças têm baixa densidade energética, favorecendo a manutenção do peso corporal saudável e ajudando a evitar a obesidade.

Estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que o baixo consumo de hortaliças e frutas está entre os cinco principais fatores de risco para a carga global de doenças. Muitas mortes no mundo estão ligadas direta ou indiretamente a uma alimentação desequilibrada ou inadequada. Evidências epidemiológicas indicam uma associação inversa entre o consumo de hortaliças e frutas e o risco de doenças cardiovasculares e certos tipos de câncer. Portanto, é crucial incluir frutas e hortaliças variadas na dieta, devido ao seu efeito alcalinizante sistêmico, que favorece a reposição de minerais e vitaminas e aumenta a concentração de fibra alimentar no trato digestivo.

Pesquisas recentes indicam que o efeito da ingestão de hortaliças no controle de doenças cardiovasculares e outras morbidades é complexo. A interação entre vários íons, especialmente cálcio e magnésio, desempenha um papel importante na dinâmica da vasoconstrição arterial e no desenvolvimento da aterosclerose. Assim, a proporção entre Ca, Na, K e Mg tem efeito no controle da hipertensão, mediado possivelmente pelos hormônios reguladores dos minerais vasoativos. Hortaliças são importantes fontes de minerais, vitaminas, fibras alimentares, compostos antioxidantes e fitoquímicos que protegem o organismo contra envelhecimento precoce, aterosclerose e alguns tipos de câncer.

Além de fornecerem nutrientes básicos como ácido ascórbico, betacaroteno e ácido fólico, hortaliças e frutas são fontes de compostos bioativos diretamente associados à prevenção de doenças. Estudos científicos mostraram que o consumo de pelo menos três porções diárias de frutas contribui para a promoção da saúde e prevenção de doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs), além da manutenção do peso. Segundo Pinheiro e Gentil (2005), o consumo regular de pelo menos 400 gramas de frutas, legumes e hortaliças por dia reduz o risco de desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis, como certos tipos de câncer. De acordo com o Fundo Mundial para a Pesquisa do Câncer (WCRF), uma dieta rica em frutas, legumes e hortaliças pode prevenir 20% ou mais dos casos de câncer. O Relatório Mundial sobre Saúde da OMS estima que o baixo consumo de frutas e hortaliças está associado a cerca de 31% das doenças isquêmicas do coração e 11% dos casos de derrame no mundo. Evidências relatadas pelo Relatório Mundial da Saúde sugerem que até 2,7 milhões de vidas poderiam ser salvas anualmente no mundo se o consumo de hortaliças e frutas fosse adequado.

Portanto, a população consome uma quantidade inadequada de frutas e hortaliças, o que tem levado ao aumento de doenças crônicas não transmissíveis. Aumentar o consumo de frutas e verduras é um dos principais desafios da saúde pública atualmente. No entanto, existem várias razões pelas quais certas populações não consomem esses vegetais, como preço, conveniência, sabor e estigma. A redução do preço de frutas e hortaliças, obtida por meio de políticas públicas, poderia aumentar a participação desses alimentos na dieta, prevenindo o surgimento de inúmeras doenças e reduzindo os gastos públicos no tratamento dessas enfermidades.

O Sistema Único de Saúde (SUS) e diversos estudos têm evidenciado que os gastos com doenças crônicas degenerativas no Brasil são altíssimos. Os estudos consideraram os riscos relativos e as prevalências populacionais de hipertensão, diabetes e obesidade, levando em conta custos de hospitalizações, procedimentos ambulatoriais e medicamentos distribuídos pelo SUS para o tratamento dessas doenças. As informações de custo foram obtidas nos sistemas de informação em saúde disponíveis no SUS. As análises exploraram as despesas dessas doenças segundo a idade e o sexo da população adulta. Os custos gerais das doenças como hipertensão, diabetes e obesidade no SUS alcançaram 3,45 bilhões de reais em 2018, ou seja, mais de 890 milhões de dólares. Desse total, 59% foram referentes ao tratamento da hipertensão, 30% ao diabetes e 11% à obesidade. No total, 72% dos custos foram com indivíduos de 30 a 69 anos e 56% com mulheres. Considerando separadamente a obesidade como fator de risco para hipertensão e diabetes, os custos atribuíveis a essa condição chegaram a 1,42 bilhões de reais, ou 41% dos custos totais.

Portanto, as estimativas dos custos atribuídos às principais doenças crônicas associadas à alimentação desequilibrada ou inadequada evidenciam a necessidade de um grande aporte financeiro que impacta o SUS. Esses dados mostram a necessidade de priorizar políticas integradas e intersetoriais para a prevenção e controle da hipertensão, diabetes e obesidade. Tais políticas podem apoiar a defesa de intervenções fiscais e regulatórias e, assim, alcançar os objetivos de se manter uma alimentação saudável, pautada na segurança alimentar.

Artigo escrito por Reginaldo da Silva

Engenheiro Agrônomo

Mestre e Doutor em Ciência dos Alimentos

PhD em Biotecnologia de Óleos Vegetais da Amazônia

Professor e Pesquisador da Universidade Federal do Acre