A especulação de que o deputado federal Guilherme Boulos (PSol-SP) poderia assumir um ministério no governo de Luiz Inácio Lula da Silva gerou uma verdadeira crise de alinhamento político tanto dentro do PSol quanto do PT. Boulos, ex-líder do MTST e figura central no PSol, é cotado para assumir a Secretaria-Geral da Presidência, cargo estratégico que lida diretamente com os movimentos sociais. No entanto, essa possível nomeação tem causado divisões profundas nos dois partidos.
No PSol, a ala majoritária, que defende uma maior aproximação com o PT, vê a ida de Boulos para o ministério como uma forma de fortalecer o diálogo da esquerda. No entanto, uma ala radical do partido, que ainda preserva uma postura de independência, critica abertamente a ideia. Para essa corrente, o PSol não deve se integrar completamente ao governo Lula, que já conta com a presença do Centrão em várias pastas, o que representa uma concessão à política tradicional que muitos membros do partido condenam. “Boulos tem uma política de aproximação com o PT muito forte, mas não podemos esquecer que estamos em um governo que ainda carrega muitos problemas internos”, afirmou um membro da ala dissidente.
Dentro do PT, o nome de Boulos é polêmico. Muitos petistas consideram a possível indicação como uma perda de espaço para um partido menor, considerando que o PSol já ocupa uma pasta importante no governo com a ministra Sônia Guajajara. Além disso, a ideia de trazer Boulos para o governo cria um dilema estratégico. Ele é visto como uma liderança emergente da esquerda, mas sua possível candidatura ao governo de São Paulo em 2026 poderia significar uma saída prematura do ministério, o que geraria insegurança em relação à estabilidade política.
Além disso, a situação de Boulos no governo poderia ser vista como um sinal de radicalismo. Isso porque a aproximação de figuras como Boulos, que se identifica com as pautas mais à esquerda, poderia enfraquecer a imagem de moderação que Lula tenta projetar, especialmente se, simultaneamente, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, for nomeada para a Secretaria de Relações Institucionais, um cargo crucial para a mediação entre o governo e outras forças políticas.
Essa crise interna também levanta a questão sobre o futuro político de Boulos dentro do PSol. Se ele migrar para o PT, poderia fortalecer sua imagem e reduzir sua identificação com uma esquerda mais radical, mas ao mesmo tempo perderia o protagonismo e a visibilidade que tem hoje como líder do PSol. A decisão de Boulos de aceitar ou recusar a proposta de Lula pode moldar seu futuro político de forma decisiva, tanto nas eleições de 2026 quanto em sua trajetória dentro da esquerda brasileira.
Além disso, outros nomes estão sendo cogitados para o cargo, como os petistas Paulo Pimenta e Marco Aurélio Carvalho, o que aumenta ainda mais a pressão interna no PT e no PSol. A escolha de Boulos pode redefinir não apenas o governo de Lula, mas também as relações entre as principais forças da esquerda no Brasil, estabelecendo um novo equilíbrio de poder entre as siglas. O impasse sobre sua indicação é mais do que uma simples negociação ministerial – é um reflexo das disputas internas que marcam o atual cenário político do país.