NEM O GADO ESCAPA! Comando Vermelho pode estar lavando dinheiro com gado falso em reserva no Acre

A Polícia Federal está investigando um esquema de lavagem de dinheiro que pode estar sendo operado por facções criminosas dentro de áreas protegidas na Amazônia, incluindo a Reserva Extrativista Chico Mendes, no Acre. Segundo denúncias anônimas recebidas por agentes da PF e do Instituto Chico Mendes de Biodiversidade (ICMBio), fazendeiros e produtores rurais da região entre Boca do Acre e Lábrea (AM), e também na Resex Chico Mendes, estariam colaborando com o crime organizado.

As investigações apontam para a prática de um método conhecido como “gado de papel” ou “boi de papel”, uma forma de esconder o dinheiro obtido por meio de tráfico de drogas, assaltos a banco e outros crimes. A técnica consiste em simular a criação e comercialização de gado inexistente, utilizando documentos falsificados para justificar a entrada do dinheiro no sistema financeiro como se fosse receita lícita.

O processo envolve a declaração de rebanhos fictícios em registros oficiais, como fichas sanitárias e guias de transporte animal (GTA). Com esses documentos, são criadas notas fiscais falsas e comprovantes de vacinas, simulando vendas inexistentes. O dinheiro sujo, então, aparece como se fosse lucro legal.

Em alguns casos, o gado pode até ser misturado com rebanhos reais e encaminhado a frigoríficos, dificultando ainda mais o rastreamento das operações. Outra estratégia observada é o subfaturamento ou superfaturamento de transações, o que permite justificar lucros incompatíveis com a realidade.

Ainda não se descarta a participação de outras facções no esquema, como o Primeiro Comando da Capital (PCC). Em maio de 2025, uma operação conjunta das polícias civis do Rio de Janeiro e São Paulo revelou um esquema de lavagem de R$ 6 bilhões que envolvia alianças entre o Comando Vermelho (CV) e o PCC.

No Acre e no sul do Amazonas, a presença do ICMBio e as ações contra crimes ambientais serviram de ponto de partida para a investigação. Durante fiscalizações, agentes encontraram divergências entre os registros documentais e o que era de fato observado nas propriedades rurais.

A tensão na região aumentou. Em um áudio que circulou nas redes sociais, um homem não identificado faz ameaças diretas contra os órgãos de fiscalização e chega a incitar violência, mencionando fazendeiros, donos de serrarias e pistoleiros. Ele também cita nominalmente a ministra Marina Silva de forma ofensiva.

No último domingo (15), uma tentativa de atentado contra fiscais do ICMBio dentro da Resex Chico Mendes evidenciou o nível de conflito. Estradas foram bloqueadas com fogo, pontes destruídas e até o acampamento da equipe de fiscalização sofreu tentativa de incêndio. Três pessoas foram presas em flagrante.

Na madrugada de terça-feira (17), criminosos invadiram um frigorífico em Brasileia, onde estavam sendo abatidos animais apreendidos de áreas embargadas. O rebanho foi solto. Já na quarta-feira (18), um homem que se identificou como integrante do Comando Vermelho fez ameaças ao dono do frigorífico, afirmando que a organização retaliaria as mortes do gado.

No dia seguinte, o mesmo homem voltou atrás. Em novo áudio, disse que usou o nome do Comando Vermelho em um momento de raiva e que a facção não estava envolvida nas ameaças.

José Augusto Pinheiro, um dos porta-vozes do movimento que protesta contra a atuação do ICMBio, IBAMA e Polícia Federal afirmou não ter conhecimento sobre a participação de produtores rurais em esquemas ilegais.

As investigações continuam e seguem sob sigilo. O caso alerta para uma nova fase de atuação do crime organizado na região amazônica, em que áreas protegidas e atividades econômicas legais podem estar sendo usadas como fachada para operações milionárias de lavagem de dinheiro.