A turista chilena Loreto Belén denunciou o líder indígena Isaka Ruy por estupro durante uma vivência na Aldeia Me Nia Ibu, localizada em São Francisco do município de Feijó, no interior do Acre. A denúncia foi registrada na delegacia da Polícia Civil da cidade, que confirmou que está investigando o caso. O suspeito nega o crime.
Loreto relatou o ocorrido também nas redes sociais, onde publicou um vídeo contando sua versão dos fatos. Segundo ela, os abusos teriam acontecido durante uma experiência espiritual com o povo Huni Kuî. A chilena conta que visitou a aldeia pela primeira vez em janeiro de 2024 e, em maio, retornou ao local após pagar cerca de R$ 5.500 por um novo período de imersão.
De acordo com o relato da turista, o primeiro abuso aconteceu quatro dias após sua chegada, durante um banho medicinal. Ela afirma que foi tocada sem consentimento, mas ficou em silêncio por estar confusa e desconfortável. Ainda segundo Loreto, o crime teria se agravado no dia 17 de junho, quando Isaka Ruy a levou para uma área de mata e a estuprou. Ela afirma que tudo aconteceu após o indígena dizer que queria formar um casal com ela. Após recusar, Loreto diz que foi forçada pelo acusado.
A turista também relatou ter sido agredida com um pedaço de pau pela esposa do líder indígena logo após o estupro. Loreto conseguiu fugir da aldeia e procurou ajuda. Ela registrou a ocorrência no dia 23 de junho e passou por exames médicos no hospital de Feijó. Um inquérito foi aberto pela Polícia Civil e a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) foi comunicada.
O delegado responsável pelo caso, Dione dos Anjos Lucas, informou que Loreto apresentou vídeos e provas dos abusos. A investigação segue em andamento. O suspeito ainda não foi ouvido oficialmente e não foi localizado até o momento. Isaka afirma que é inocente e que vai se defender na Justiça.
Loreto também relatou que, após comunicar os primeiros abusos à família do suspeito ainda dentro da comunidade, foi incentivada a apagar os vídeos e, em troca, recebeu desconto no valor da vivência. O pacote, inicialmente de R$ 5.500, foi reduzido para R$ 2.500. Segundo ela, familiares do indígena pediram desculpas e a convidaram a permanecer na aldeia sem precisar pagar.
Mesmo após esse episódio, Loreto decidiu continuar na comunidade acreditando que os abusos não voltariam a acontecer. Porém, após o estupro, ela deixou o Acre e retornou ao Chile, onde está na casa da mãe. Ela disse que resolveu denunciar o caso para que outras pessoas não passem pelo mesmo.
“Não quero difamar ninguém, mas acredito que outras mulheres precisam ter coragem de falar. Espero que isso não se repita com mais ninguém“, declarou.
A turista afirmou ainda que um dos seus celulares desapareceu depois do abuso e suspeita que ele tenha sido levado por familiares do acusado para evitar a divulgação dos vídeos. O delegado Dione Lucas confirmou que a vítima relatou ter sido roubada na tentativa de silenciá-la.
Loreto foi acolhida e acompanhada pelo Departamento Bem Me Quer da Polícia Civil e pelo Organismo de Políticas Públicas para Mulheres (OPM). Após os primeiros atendimentos no hospital, a vítima foi levada em segurança até Rio Branco, capital do Acre, onde foi encaminhada para um abrigo especializado em mulheres vítimas de violência.
A coordenadora do OPM em Feijó, Pâmela Morais, disse que todo o apoio foi prestado para garantir a integridade da turista. Loreto demonstrou forte desejo de deixar a cidade, pois se sentia insegura e relatou que muitos indígenas a reconheciam e se aproximavam dela. O suporte foi mantido até seu retorno ao Chile.
A Polícia Civil segue investigando o caso e tentando localizar o suspeito para ouvir sua versão.