A Corte Especial do Superior Tribunal de Justiça (STJ) decidiu, nesta semana, prorrogar por mais 180 dias as medidas cautelares impostas ao governador do Acre, Gladson Cameli (PP), no âmbito da Operação Ptolomeu. A decisão mantém restrições como proibição de deixar o país, bloqueio de bens e impedimento de contato com outros investigados.
A relatora do caso, ministra Nancy Andrighi, destacou que a prorrogação é necessária para evitar qualquer risco de interferência do governador nas investigações, que apuram supostos crimes de corrupção, peculato, fraude em licitação, lavagem de dinheiro e organização criminosa. Segundo ela, o prazo anterior estava prestes a vencer, e as cautelares permanecem essenciais “para garantir a efetividade da instrução processual e a preservação da ordem pública”.
A decisão do STJ evidencia que o tribunal mantém desconfiança sobre o ambiente político e administrativo no entorno do governador, sinalizando que ainda não há condições seguras para flexibilizar as restrições.
Investigações e acusações
A Operação Ptolomeu, conduzida pela Polícia Federal e pela Controladoria-Geral da União (CGU), apura um suposto esquema de desvio de recursos públicos no governo do Acre. De acordo com as investigações, o grupo teria criado uma estrutura organizada para ocultar beneficiários reais, manipular atas de preços e direcionar contratos milionários a empresas sem capacidade técnica comprovada.
Entre os contratos sob suspeita está o firmado com a empresa Murano, no valor de R$ 24,3 milhões, que apresentaria sobrepreço, superfaturamento e serviços sem comprovação técnica. Conforme a Procuradoria-Geral da República (PGR), quase dois terços dos valores pagos não guardariam relação com o objeto contratual, o que configuraria desvio deliberado de dinheiro público.
Contexto político
Mesmo diante das acusações, Gladson Cameli tem reiterado que é inocente e alega ser vítima de perseguição política. Em declarações públicas, o governador afirma enfrentar o que chama de “terrorismo acusatório” e diz confiar que será absolvido.
Contudo, a sucessão de decisões judiciais desfavoráveis tem ampliado o desgaste político do chefe do Executivo acreano, que enfrenta forte crise de credibilidade e pressão institucional às vésperas do julgamento marcado para 19 de novembro.
O caso se tornou um dos mais complexos da história recente do Acre e expõe os desafios de um governo marcado por denúncias e investigações que, segundo a Justiça, ainda demandam cautela e vigilância contínua.