Nicolás Maduro é reeleito presidente da Venezuela com 51,2% dos votos; oposição contesta resultado

Com 80% das urnas apuradas, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE), anunciou no último domingo, 28, a vitória de Nicolás Maduro como presidente da Venezuela, reeleito com 51,2% dos votos, contra seu adversário Edmundo González Urrutia, com 44,2%.

Após o anúncio, Nicolás Maduro discursou na madrugada desta segunda-feira, 29, e defendeu o sistema eleitoral venezuelano, alegando que houve auditoria e revisão dos resultados. Além disso, Maduro chamou seus adversários de fascistas e puxou um coro de “Viva Chávez” em frente ao Palácio de Miraflores, a sede do Executivo.

“Sou um homem de paz. Sou um homem de diálogo. Nunca pensei, jamais, em estar em cargo público de relevância. O que sempre me impulsionou foi o espírito de lutar pela Venezuela”, declarou Maduro.

Em seu discurso, Nicolás afirmou que haverá “paz, estabilidade e justiça” no país. Ele também citou o presidente argentino, Javier Milei, chamando-o de “sociopata sádico”, “facista”, “vendido” e “traidor da pátria”, entre outros xingamentos.

Confusão nas eleições

A reeleição de Maduro para seu terceiro mandato como presidente aconteceu após denúncias de que os chavistas intimidaram e impediram fiscais eleitorais de realizar o seu trabalho durante as eleições deste domingo, 28. 

A oposição contestou o resultado divulgado pelo CNE e calcula que o adversário de Maduro, Edmundo González, teria vencido o pleito com cerca de 70% dos votos, contra 30% do presidente. A maioria das pesquisas indicava vitória de González, candidato que substituiu a líder da oposição, María Corina Machado, que foi impedida de concorrer pelo regime chavista. 

Maduro chegou a ameaçar que o país poderia enfrentar um “banho de sangue” e uma “guerra civil fratricida” caso ele não vencesse as eleições. 

“Ataque terrorista”

O presidente do CNE, Elvis Amoroso, informou que o resultado das eleições na Venezuela demorou a ser divulgado por causa de um “ataque terrorista” ao sistema de transmissão dos votos.

A vitória de Maduro só foi anunciada por volta de 1h da manhã desta segunda-feira, no horário de Brasília. O presidente Nicolás Maduro afirmou que houve um ataque massivo ao sistema de transmissão do órgão eleitoral. Mesmo sem apresentar provas sobre o suposto ataque, ele disse saber “de que país” teria surgido o atentado cibernético, sem fornecer detalhes da acusação.

Já a opositora María Corina Machado criticou a interrupção da transmissão e pediu que os eleitores fizessem uma vigília nas seções para evitar fraudes.

O próprio CNE também apontou que teria havido uma “agressão contra o sistema de transmissão de dados que atrasou de maneira adversa a transmissão dos resultados” das eleições presidenciais.

O órgão eleitoral apontou, ainda, que solicitou uma investigação sobre o que chamou de “ações terroristas contra nosso sistema eleitoral, contra os centros de votação e contra os funcionários eleitorais”. 

Subindo o tom na acusação dos ataques, Maduro declarou, ainda no discurso após a vitória, que os órgãos de investigação do país já estão apurando o caso, apontando que o suposto ataque hacker tinha como objetivo fazer com que a população não tivesse  acesso aos resultados oficiais.

Desde 2004, o voto na Venezuela é eletrônico. A empresa responsável pelo sistema é a argentina ExClé. A transmissão dos dados das urnas eletrônicas é feita pela internet, através de um sistema criptografado. Essa transmissão, no geral, leva algumas horas e foi atrasada para a madrugada desta segunda-feira 29 após o suposto ataque. 

Até o momento, as atas da votação ainda não foram apresentadas. Essa demora para exibição dos documentos é, inclusive, alvo das maiores cobranças de parte da comunidade internacional ao questionar a lisura do resultado.

Oposição contesta resultado

A oposição da Venezuela anunciou que não reconhece a decisão do Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela (CNE) de declarar Nicolás Maduro como vencedor das eleições presidenciais.

“Nossa luta continua, e não descansaremos até que a vontade popular seja respeitada”, disse o candidato Edmundo González em um breve discurso.

A líder oposicionista María Corina Machado, impedia de concorrer no pleito, disse que a declaração do CNE vai contra as pesquisas internas que apontavam vitória da oposição com ampla margem em relação a Maduro.

Machado afirmou que oposição ganhou em todos os Estados e que os resultados esperados dariam a vitória a González com cerca de 70% dos votos contra 30% dos governistas.

Países cobraram transparência e respeito aos resultados

Durante a espera pela divulgação dos resultados, lideranças internacionais cobraram transparência e respeito aos resultados.

O secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, manifestou nesta segunda-feira 29 “grave preocupação” com a possibilidade do resultado das eleições presidenciais da Venezuela não represente a realidade. 

Segundo Blinken, há evidências de que a vitória de Nicolás Maduro não esteja alinhada “à vontade do povo”. Blinken pediu apuração “justa e transparente”.  

“Os Estados Unidos têm sérias preocupações de que o resultado anunciado não reflete a vontade nem os votos do povo venezuelano e pedem que as autoridades eleitorais publiquem uma relação detalhada dos votos”, afirmou Blinken.

O presidente da Argentina, Javier Milei afirmou que reconhece a vitória da oposição. Milei pediu que o presidente Maduro deixe a presidência da república.

“Os resultados mostram vitória esmagadora da oposição e mundo aguarda que Maduro reconheça a derrota depois de anos de socialismo, miséria, decadência e morte”, afirmou Milei. 

O líder do Uruguai, Luis Lacalle Pou, de centro-direita, por sua vez, também rejeitou a vitória governista. 

“Não se pode reconhecer um triunfo se não se confia na forma e nos mecanismos utilizados para chegar nele”, escreveu ele, nas redes sociais. 

Além dos presidentes da Argentina e do Uruguai, governos de esquerda da América Latina também optaram pela cautela sobre os resultados. 

Gabriel Boric, do Chile, afirmou que “os resultados são difíceis de acreditar”, enquanto o chanceler da Colômbia, Luis Gilberto Murillo, que é presidida por Gustavo Petro, também de esquerda, exigiu “contagem total dos votos”. 

Os governos do Peru, Costa Rica e Guatemala também demonstraram cautela quanto ao resultado.

Chanceler do Peru, Javier González-Olaechea afirmou que convocará o embaixador do país na Venezuela para consultas diante do “grave anúncio oficial das autoridades eleitorais venezuelanas”.

Na Guatemala, o mandatário Bernardo Arévalo disse ter recebido a vitória de Maduro “com muitas dúvidas”. 

“A Venezuela merece resultado transparente, preciso e que corresponda à vontade do povo”, disse Arévalo.

A mesma linha foi seguida pela Costa Rica. O presidente, Rodrigo Chaves, considerou a vitória como “fraudulenta”.

Na Europa, o governo da Espanha, através do ministro das Relações Exteriores, José Manuel Albares, pediu para que o processo sofra averiguação externa. 

“Queremos total transparência e pedimos a publicação das atas mesa por mesa. Queremos que se garanta transparência. A chave é essa publicação de dados, mesa por mesa, para que sejam verificáveis”, disse.

Aliados de Maduro apoiam vitória governista 

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, parabenizou Maduro. Moscou afirmou que a relação bilateral entre Rússia e Venezuela continuará “estratégica”. E disse que os dois países vão desenvolver ações conjuntas em “todas as áreas”. 

Em Cuba, o ditador Miguel Díaz-Canel cumprimentou Maduro através da rede social X, ex-Twitter. “Hoje triunfou a dignidade e o valor do povo venezuelano sobre pressões e manipulações”, escreveu.

Na China, o Ministério das Relações Exteriores de Pequim afirmou que está “disposto a enriquecer a associação estratégica” com Caracas.