‘Não dá para o país seguir às custas do sacrifício do trabalhador’, afirma Socorro Neri sobre a PEC 6×1

A deputada federal Socorro Neri, abordou sobre a PEC 6×1 durante entrevista ao programa Gazeta Entrevista, na última sexta-feira, 14. A proposta, de autoria da deputada Erika Hilton (PSOL/SP), propõe o fim da escala 6×1 e a redução da jornada semanal de trabalho de 44 para 36 horas. Com mais de 200 assinaturas de apoio, o texto superou o mínimo necessário de 171 para tramitar na Câmara dos Deputados.

Socorro destacou que a tramitação seguirá um rito detalhado: “Quem faz a designação do relator é a presidente da Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania, que hoje é uma deputada da extrema direita. Esse relator faz o trabalho e, na sequência, a Câmara designa um grupo de trabalho especial. Feita toda essa discussão com a sociedade, cria-se um relatório constitutivo, que é levado ao plenário para aprovação. Tem que ter, em cada uma das Casas, dois terços dos votos. Não é uma medida que vai se dar de forma solada, atropelando tudo; há um processo, há um rito que vai ter que ser seguido”.

A deputada explicou que assinou a PEC por considerar a demanda legítima. “Isso é um debate que está vindo da sociedade, uma demanda social que é gritante e faz muito sentido. Por isso eu assinei. Eu sou uma das deputadas que tem se mobilizado para conquistar mais assinaturas”.

Contudo, Socorro apontou desafios técnicos na proposta atual, como o limite de 36 horas semanais em no máximo quatro dias de trabalho.

“É uma conta que não bate. Penso que o formato que vai se chegar será o dos 5×2, mantendo as 36 horas distribuídas em cinco dias da semana, não mais do que 8 horas por dia”, disse Neri.

A parlamentar também criticou os argumentos contrários à proposta, comparando a resistência empresarial à reação histórica a direitos como o 13º salário e a licença-maternidade.

“Eu participei de alguns grupos parlamentares e me surpreendi com o nível de debate. Me senti no período da escravidão, quando se discutiu a abolição. Foi uma guerra duríssima, com argumentos absurdos, como se o país fosse quebrar. O trabalhador, que já é tão explorado, ainda está sendo chamado a se sentir responsável por um fracasso econômico que não existe”, declarou a deputada.

Socorro reforçou que a mobilização popular é essencial para o avanço da PEC, para evitar que a proposta seja arquivada, como aconteceu com uma PEC semelhante apresentada pelo deputado Reginaldo Lopes (PT/MG).

“Se os trabalhadores interessados não se mantiverem atentos, vigilantes, cobrando, essa proposta vai morrer. A imprensa também precisa acompanhar para evitar que o debate seja esquecido. O trabalhador precisa entender que a vigilância tem que continuar”.

A deputada defendeu que a redução da jornada semanal é uma questão de qualidade de vida.

“O trabalhador precisa de tempo para ir ao médico, conviver com a família, acompanhar a escola do filho, cuidar de si. Não dá para achar que o país tem que seguir do jeito que é, às custas do sacrifício do trabalhador. Isso é absurdo, é uma verdadeira escravidão”, concluiu a parlamentar.